Ninguém poderia estar pronto para isso
- leticiafantagussi
- 21 de mar. de 2020
- 4 min de leitura
Faz um bom tempo que penso em começar um blog. Minha mãe sempre me disse que seria um jeito legal de me expressar e que se fosse ela na minha época, e portanto com acesso à coisas como internet quase ilimitada, já teria feito isso e muito mais. Não tem jeito, as gerações anteriores amam criticar a atual por coisas que eles já faziam ou teriam feito na sua idade. Porém, mais recentemente eu li a continuação de um dos melhores guias para artistas da atualidade (na minha humilde opinião, claro), e meio que óbviamente uma das recomendações de Austin Kleon em "Mostre seu trabalho" é: crie um blog. "Absolutamente tudo de bom que aconteceu na minha carreira veio do meu blog" foi o que ele disse mais precisamente; o que sou parece promissor, no mínimo tentador.
Confesso que já tentei começar um algumas vezes. Criei uns modelos, uns textinhos bestas pra preencher espaço aqui e ali, mas a ideia nunca foi pra frente. O motivo é simples e clichê: medo de soar ridículo. Porém (de novo) uma outra frase desse mesmo livrinho, me fez reconsiderar com carinho esse sentimento.
"A COMPULSÃO POR EVITAR O CONSTRANGIMENTO É UMA FORMA DE SUICÍDIO" - COLIN MARSHALL
Ainda assim, três semanas depois da leitura eu ainda não havia "criado" nada. Bom, eu desenho e tenho um instagram para eles, então não é como se eu só tivesse existido nesse período esperando que o sucesso viesse até mim (ah, eu também faço faculdade). Mas também é verdadde que, até agora, nem um emprego normal eu tenho, e nem terei tão cedo. O que me leva ao verdadeiro motivo de ter cedido ao meu lado impulsivo e ansioso e, às 4 da manhã, ter ido buscar no Google por "sites bons para criar blogs".
Isso tudo começou porque eu, com insonia por ter acordado às 11:00 no dia anterior e preocupada com qualquer noticia atualmente, resolvi que era uma excelente ideia assistir a live/vídeo do Atila sobre a pandemia de coronavírus atual, o COVID-19. Pois é, aqui estou agora numa tentativa de dar qualquer rumo pra minha vida agora 100% caseira e ao mesmo tempo tentando não surtar com a previsão de um milhão de mortes no Brasil, no caso de fazermos ALGUMA coisa. Não existe possibilidade de achatamento da curva que não sobrecarregue os sistemas se saúde do país inteiro mês que vêm, e no meu aniversário em junho podemos já estar escolhedo quem vive e quem morre como na Itália, ou pior, empilhando corpos na rua como foi na época da Gripe Espanhola.
Eu não quero pensar sobre isso, ninguém quer na verdade, mas algumas pessoas estão se esforçando até demais pra esquecer que o mundo está vivendo uma pandemia mortal em pleno 2020 e querem a TODO custo viver como se nada estivesse acontecendo. Os exemplos vão desde o incompetente e irresponsável que a gente ainda tem a infelicidade de chamar de presidente até grupos de pessoas que acham que fazer uma manifestação a favor do excelentíssimo, ou então contra o próprio vírus (universo dai-me paciência porque tá foda) é, de alguma forma, melhor do que seguir as orientações de todos os profissionais da saúde do mundo.
Em meio a tanta coisa ruim acontecendo, somado a preocupação real e crescente de uma das quatro pessoas que aqui vivem infectarem a minha avó (moramos com ela); com uma semana de quarentena eu já estou quase tendo um troço. Quero dizer de forma engraçada pra amenizar o peso que uma síndrome do pânico teria numa situação dessas, mas de fato esse é outro risco que essa droga de doença nos obriga a correr, por isso vou deixar lincado um site com atendimento psicológico gratuito 24 horas para pessoas que não estiverem conseguindo lidar tão bem com o isolamento, como eu.

Esse blog é então uma mistura de terapia de isolamento, com um exercício de escrita e aprender a receber críticas construtivas de pessoas que na sua maioria não me conhecem, pela internet (what could go wrong, hum?). De brinde quem sabe as pessoas se interessam pelo que eu faço e me pagam pra criar uma logo, ou um botom... num momento em que a gente nem sabe o que vai ter no mercado amanhã ou se vai continuar empregado amanhã; ou o mais sensato, quando a crise passar.
É, são 7:15 da manhã, eu virei a noite escrevendo isso e é um belo dia para tentar coisas novas.
Não é como se isso fosse um diário de quarentena, não estou escrevendo só para desabafar, isso eu posso fazer no Google Drive. Eu quero escrever coisas úteis. Mínimamente úteis que sejam, uma distração a mais para a judar a passar por essa crise. Preciso me manter focada em algo, ter a sensação de responsabilidade e conexão com o mundo lá fora pra ter certeza que ele ainda existe; e que eu existo nele. A escrita, e eu sinto que estou sendo muito ingrata ao dizer isso, me parece permitir um elo maior, mais firme. Eu com certeza posso me explicar melhor por um textão do que por uma legenda do instagram.
Desenhos são a minha paixão, mas em imagens estáticas às vezes sinto que falta algo. Por isso eu amo animação e por isso eu morro de vontade de trabalhar com storyboard, porque une o prazer de uma imagem linda com o prazer de uma narrativa extendida. Imagens sempre contam alguma história por si só, mas convenhamos que é sempre mais legal quando essa imagem faz referência ou ela própria carrega todo um universo complexo a ser desenvolvido com inúmeras teorias e ships pra criar.
É por isso que eu também decidi me aventurar a fazer quadrinhos, por mais que esse também seja um péssimo momento pra isso, já que o único assunto o qual as pessoas estão prestando atenção é o vírus mortal e o BBB. Nesse caso, talvez isso se torne mesmo um diário de quarentena que vá registrando dia a pós dia a decadencia de um lar brasileiro em meio a uma pandemia no século XXI. Mas vamos pensar positivo e torcer pra que eu seja criativa o suficiente pra suprir meses e mais meses com CONTEÚDO.
Eu não sei exatamente como eu esperava que esse texto ficasse ou como terminar, só estou feliz por ter escrito. Já é alguma coisa, e alguma coisa é bom.
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